Além de um blog sobre reforma, decoração e lifestyle, vocês sabem que o Dicas também é um cantinho pra que eu compartilhe alguns assuntos pessoais. Como consigo alcançar bastante gente, peço licença pra dividir com vocês o meu relato de parto. Ele ficou um pouquinho extenso, porque está bem rico em detalhes e também quero guardar para ler depois. Se este assunto não te interessa, é só não ler e aguardar as cenas dos próximos capítulos. Se te interessa, pega um cafézinho e vem comigo! =D
Com este relato eu não quero polemizar e nem impor nenhum tipo de parto para ninguém. Muito menos ofender as mamães que escolheram ou precisaram ter os seus filhos por cesárea. A minha intenção é apenas compartilhar o meu ponto de vista e as minhas experiências relacionadas ao nascimento da minha primeira filha.
Já começo dizendo que você pode ler muitos relatos de parto, pesquisar, imaginar e fantasiar como será o grande momento. Mas acredite, você não terá se preparado nem 10% para esta experiência tão intensa e mágica.
O meu nome é Fabiana, tenho 27 anos e fui tentante por 3 anos. Tive problemas com a obesidade, ovários policísticos, útero retrovertido e ainda passei por duas histerossalpingografias bem doloridas. Recebi um falso diagnóstico de entupimento das trompas e quando pensamos em fertilização e até adoção, graças a Deus engravidei naturalmente.
A gestação
Estou casada oficialmente fazem 3 anos e o meu marido Rodrigo é a minha fortaleza. Esteve ao meu lado em todos os momentos e testes negativos, e foi incrivelmente parceiro durante toda a minha gestação.
Tive um pequeno sangramento nas primeiras semanas e o medo de que a gravidez não evoluísse me fez ir atrás de informação. Não sei em qual momento cheguei a procurar e entender sobre os tipos de parto e as reais indicações para uma cesárea, mas quando assisti ao documentário “O Renascimento do Parto” com o meu marido, decidimos na hora que respeitaríamos ao máximo o nascimento da nossa filha (sim, já sabíamos o sexo desde as 9 semanas, através do exame de sexagem fetal).
Apresentei as minhas intenções ao obstetra que me acompanhava desde a adolescência e ele veio com um papo estranho, criticando o parto normal. Percebi que se continuasse com ele, cairia em uma “desnecesárea”. Ouvi dele que o bebê de parto normal nasce molinho, recebe baixas notas de APGAR e que ele fazia episiotomia (corte no períneo para facilitar a saída do bebê) de rotina. Ou seja, ele faria de tudo para me fazer acreditar que precisava de uma cesárea ainda com poucas semanas de gestação.
Comecei então, a busca por um obstetra que atendesse o meu convênio e respeitasse a minha vontade de ter um parto natural, com o mínimo de intervenções, e que tivesse também o bom senso de me indicar uma cesárea caso eu realmente precisasse dela. Ah, como se não bastasse, a minha DPP (Data Provável de Parto) era no dia 23/12, ou seja, o médico precisaria estar disponível durante as festas de final de ano. Ufa!
Entrei em diversos fóruns, em busca de indicações e depois de passar em 2 obstetras, encontrei o Dr. Alberto Jorge de Sousa Guimarães e a equipe do programa Parto Sem Medo. Com eles eu tive todo o apoio para conseguir o meu parto humanizado. A partir daí, passamos em consultas de pré-natal, conversamos com as doulas e a obstetriz e participamos de palestras e encontros. Apenas as consultas estavam cobertas pelo meu convênio, mas mesmo assim, achamos que valia a pena pagar pelo parto e pedir um reembolso depois.
Quando estava de aproximadamente 18 semanas, passei por um susto daqueles. Tive uma crise renal e precisei ficar internada. Os médicos não conseguiram ver a pedrinha nos exames, mas como eu já tinha passado por isso antes, tinha certeza que era uma das grandes. Fiquei em observação e caso não expelisse a suposta pedra, teriam que removê-la cirurgicamente. Os remédios para a dor não estavam mais fazendo tanto efeito e como eu estava grávida, não podia tomar qualquer coisa. Me desesperei, mas depois de 3 dias de sofrimento, graças a Deus e aos montes de água que tomei, coloquei a pedrinha pra fora. Que alívio!
O restante da gestação passou sem grandes complicações. Completei 34 semanas, comecei a fazer massagens no períneo e também a usar o Epi-No. Tudo para reduzir os riscos de ter grandes lacerações ou precisar da episiotomia.
Durante toda a gestação, eu e o meu marido fizemos de tudo para que a nossa filha se desenvolvesse bem intra-útero (tive muitas preocupações por ter feito a redução de estômago e não absorver nutrientes tão bem) e para que o parto fosse um sucesso. Então, apesar do medo do desconhecido, a gente tinha muita confiança de que daria certo, e estávamos finalmente preparados.
Bom, durante as conversas com o Dr. Alberto, descobrimos que além de um obstetra humanizado, que respeitasse o meu parto, a gente precisaria também de uma pediatra que respeitasse a minha filha. Isso porque normalmente os plantonistas da maternidade obedecem a protocolos e rotinas invasivas que muitas vezes são desnecessárias para alguns bebês. Nem todos precisam ser aspirados ou receber o colírio de nitrato de prata. As vacinas podem esperar (dizem que a dor nas primeiras horas de vida é mil vezes maior) e a vitamina K pode ser dada via oral. Ah, e o “espetáculo do primeiro banho” dado logo que o bebê nasce, pode ser adiado para o dia seguinte, para que a própria pele absorva o vernix e os seus benefícios. Além disso, o cordão umbilical deve parar de pulsar antes de ser cortado e o bebê deve ficar com a mãe e ser incentivado a mamar logo nos primeiros minutos. É muita informação e eu recomendo para quem tiver interesse no assunto, que busque profissionais e sites ou livros especializados.
Finalmente montamos a nossa equipe: Dr. Alberto, doula e obstetriz do Parto Sem Medo e a pediatra Dra. Ana Elisa Tellian. A maternidade escolhida foi o Hospital São Luiz, unidade Itaim, que tem uma ótima infra para o parto humanizado, com salas delivery com banheira e banqueta.
O grande momento
Lá estava eu, na minha “espera mágica”, curtindo as últimas semanas e quando cheguei na 39ª semana e 2 dias, na madrugada do dia 18/12, percebi que o meu tampão mucoso havia saído. Como estava sonada, voltei a dormir e nem dei atenção, mas lembro que senti cólicas e um leve desconforto aquela noite. Perder o tampão não significa estar em trabalho de parto, então, vida que segue. Marido foi trabalhar e fui para a aula de pilates. No caminho eu comentei com o marido “Dia 18 é um belo dia para nascer. É par!” a gente riu e nem fazíamos ideia do que vinha pela frente. Chegando lá não consegui fazer todos os exercícios, mas fiquei até o final. Na volta, que são 10 minutos de caminhada aqui do apê, a coisa apertou. Senti dor de barriga e a cólica que era só um desconforto aumentou bastante. Foi aí que percebi que eram as tais contrações. Elas ainda eram bem irregulares e eu não conseguia nem marcar os intervalos. Até que já não tinha mais posição, não sabia se ficava sentada, deitada ou de pé. Evacuei várias vezes e me dei conta que o meu corpo estava se preparando intensamente para o grande momento.
Eram 11:00hs e eu tive certeza que estava em trabalho de parto. Resolvi avisar a doula e o meu marido já estava sabendo de tudo por WhatsApp. Eu estava sozinha em casa, fiz um chá de camomila e precisava me alimentar para ter energia. Como não tinha nada pronto para comer, entre as contrações eu consegui fazer a Sopa Fortificante do Xuê, indicada pela minha doula. Comi e comecei a entrar na partolândia, ficando sem noção de tempo e espaço. Me dei conta que a minha mala e a do marido não estavam 100% prontas e entre as dores, fui completando o que faltava. Preparei a câmera, limpei o cartão de memória e me entreguei, não conseguia fazer mais nada. O marido chegou, eram mais ou menos 14:00hs e com a orientação da doula por telefone, fui para debaixo do chuveiro quente. Fiquei lá pouco mais de uma hora e parece que a água na barriga e nas costas, amenizava bastante as dores das contrações. Confesso que implorei por um box maior, mas mesmo assim, consegui ficar sentada em um banquinho, depois não quis mais o banco e fui para o chão, levantei e fiquei revezando as posições até que a doula Adriana chegou. Pareceu uma eternidade!
Enquanto a Adriana cuidava de mim, o marido foi remanejar os carros e preparar tudo para irmos para o hospital. A nossa vaga de garagem é presa e com a confusão para entrar com o carro da doula no condomínio, o marido demorou o que pra mim foi uma vida inteira.
Apesar de não ter conhecido a Adriana antes (eles enviam a doula que estiver mais perto), a chegada dela me deu muito alívio. Ela parecia de casa, me acalmou e ajudou bastante durante as contrações. Saí do chuveiro, ela fez massagens na minha lombar e pés, usou uma compressa quente, me orientou sobre a respiração e as vocalizações.
Meu marido voltou e começamos a falar sobre ir para o hospital. Foi aí que me deu medo, porque me dei conta que eram 17:00hs de uma quinta-feira. Será que daria tempo de chegar no hospital?! Quanto tempo mais de dor eu iria aguentar?!
Me vesti com a ajuda da Adriana e eu acabei sendo um pouco grossa. Ela me perguntou o que eu queria fazer, na intenção de me respeitar ao máximo, e eu disse super seca: “Eu só quero ir para o hospital agora!”. Pegamos as malas, esperamos mais uma contração passar e fomos correndo para o carro. Graças a Deus eu não tive nenhuma contração durante esse percurso, porque eu não aguentava passar por elas em pé.
Saímos do condomínio e já no primeiro farol encontramos um pouco de trânsito. Era terrível ter contração com o carro em movimento, passando por curvas e buracos. Gemi, chingue e acho que até gritei algum palavrão. A doula continuou me confortando e me lembrando que era uma contração a menos e que cada uma delas me ajudava a dilatar mais. Lembro da voz dela me dizendo “Uau! Essa foi forte né?! Que delícia, deve ter dilatado bastante. Aguenta que já estamos chegando.”.
O marido fez um caminho maluco, misturou uma rota que já tinha testado antes com as dicas de fuga da doula e do Waze. Tive medo de que a dor ficasse mais intensa do que já estava, e que a parte expulsiva do parto fosse muito pior. Senti a bebê mais baixa e percebi que ela nasceria logo. Que medo e que dor!
Finalmente chegamos no hospital e a doula me conduziu direto para a triagem. Enquanto isso, o marido ficou na recepção fazendo a minha internação. Passamos por várias gestantes dando entrada e chegando para as cesáreas agendadas. Espero não ter assustado ninguém com os meus gemidos, a feição de dor, suada, cabelo desarrumado e o vestido amassado. Eu estava completamente sem dignidade. =P
Me encaminharam para uma sala, colocaram o cardiotoco e a médica de plantão na triagem veio me examinar. Eram mais ou menos 18:00hs, eu estava com 9cm de dilatação e a bolsa íntegra. Se rompessem, a Luna nasceria. Foi um desespero e correria geral, tiraram a minha roupa, colar e brincos (nunca mais vi as minhas bijus, entregaram para o meu marido, mas sumiram com a correria) e me colocaram na maca. Enquanto isso, outra enfermeira verificou a disponibilidade da sala delivery e reservou também o elevador. Fomos correndo para a sala de parto e no caminho resgatamos o meu marido. A enfermeira gritou para que ele se apressasse e fizesse a internação depois, ou não veria a filha nascer. O único momento em que o meu marido não ficou do meu lado, foi quando precisou ir ao vestiário colocar aquela roupa especial de hospital.
Chegando na sala de parto, o plantonista Dr. Gabriel veio me examinar e eu já estava com dilatação total, só faltava a bolsa romper. A dor era insuportável e eu lembrei que li em um relato uma vez, que quando parece que não vamos aguentar mais, e que vamos desistir, é porque já estamos completamente dilatadas e o bebê está nascendo. Me apeguei a isso, e a dor das contrações foi dando lugar a uma vontade enorme de fazer força. Então, a doula foi encher a banheira.
A pediatra chegou e só faltava o meu obstetra para completar a equipe. Enquanto isso, a doula cuidou para que não interviessem de forma alguma e me respeitassem. Entrei na banheira e a dor ficou um pouco mais suportável. A água estava bem quente e a luz estava apagada. Eu tentava não fazer força, para esperar o meu médico chegar, mas era inevitável. Durante todo esse tempo, a Luna foi monitorada e eu fui confortada e encorajada pelos profissionais que estavam ali. Ai, mas que dor intensa!
Durante uma das contrações a bolsa rompeu e a vontade de fazer força aumentou mais ainda. Parecia uma vontade incontrolável de fazer o número 2. O meu médico chegou em seguida e eu fiquei super aliviada e confiante em vê-lo por ali. Apoiei firme os pés nas alças da banheira e depois de umas 3 ou 4 forças, ás 19:39hs, a Luna nasceu lindamente na água. A sensação é de que não tem mais volta, que depende apenas de você. A onda de força, instinto e coragem chega, você se empodera daquilo, supera as dores e simplesmente dá a luz. A dor passou imediatamente.
Eu não sei se foi pela adrenalina, endorfina ou sei lá o que, mas lembro da parte expulsiva do meu parto, só em preto e branco. Sentir a minha filha nascendo, com todos os meus músculos tencionados, a força descomunal, o grito de empoderamento, meu marido aos prantos no meu ombro e depois aquele bebê quentinho nos braços são sensações combinadas que criam uma experiência praticamente impossível de descrever. Só sei que senti com cada pedacinho do meu corpo. A pequenina chorou e eu a confortei com todo o amor do mundo. Foi mágico e lindo!
Me ajudaram a sair da banheira e fui para a maca. Esperamos o cordão umbilical parar de pulsar e só depois o meu marido cortou. Me aplicaram uma injeção de ocitocina na coxa, pra ajudar a estancar os sangramentos e com um pouco de ajuda do médico a placenta foi expelida. Lembro que tive medo da tal injeção e o médico disse “Você acabou de parir um bebê sem anestesia e está com medo de uma picada?” e logo depois tive medo de sentir dor ao expelir a placenta, e o médico disse “Pelo menos ela não tem ossos!”. Todos caímos na risada.
A Luna foi incentivada a mamar e já fazia os movimentos de sucção desde o momento em que foi colocada no meu peito. Quando dormiu, a pediatra a pegou gentilmente para examinar, limpar, pesar e identificar. Enquanto isso, o Dr. Alberto avaliou o meu períneo e viu que eu precisaria de um pontinho. Mas, enquanto ele preparava a agulha para a sutura, o sangramento do corte parou e ele não achou que fosse mais necessário. No fim, não levei ponto algum, que alívio!
A minha filha nasceu com 2.980kg e 48,5cm. Recebeu notas 9 e 10 de APGAR e não precisou de intervenção nenhuma, era super saudável. Ficou um tempão comigo na sala de parto e só saiu de perto de mim para passar obrigatoriamente pelo berçário central. Eu fui logo para o quarto e só tomei um analgésico leve. Não precisei ficar com acesso de medicação, soro, sonda, nem nada. Levantei logo e tomei um belo banho para esperar a minha princesa. Ficamos em alojamento conjunto e a única dificuldade maior que passamos, foi que o meu leite demorou 3 dias para descer e só o colostro não estava sustentando. Ela chorou bastante e ficamos desesperados.
Tivemos alta juntas, no dia 21/12 e só precisamos ficar 3 dias na maternidade devido ao teste do pezinho, que deve ser feito a partir das 48hs do parto. Desde então, a minha vida tem sido de aprendizado, descobertas, muita dedicação, noites sem dormir e muito muito amor incondicional.
Obrigada a minha família, ao Dr. Alberto por tornar este parto possível, a doula Adriana e a pediatra Dra. Ana Elisa, e principalmente ao meu marido que entrou nessa de cabeça e me deu forças até quando parecia que eu não ia conseguir.
Durante a minha gestação, engordei 15kg. Engravidei com 64kg, cheguei aos 79.4kg e atualmente estou nos 69kg. Não estou fazendo nenhuma dieta específica. Amamento a Luna exclusivamente no peito e isso dá muita fome e sede. Só tento evitar os alimentos que podem aumentar as cólicas e gases da moçinha.
Se falei alguma besteira técnica durante o meu relato, fiquem a vontade para me corrigir. E se tiverem mais dúvidas sobre algum assunto específico podem comentar que eu respondo assim que possível.